O design gráfico japonês é fácil de identificar. E é que, ao contrário do design ocidental, ele aposta na simplicidade — não por uma simplicidade fácil, mas por aquilo que se alcança através da síntese de diferentes elementos.
Muitos designers ocidentais alimentaram seus estilos com o conhecimento do design gráfico japonês. E nesta cultura há muito a explorar. Talvez o design gráfico do Japão chame a sua atenção tanto quanto a mim; então, se quiser saber mais sobre ele, descubra aqui 10 coisas que nunca imaginou sobre o design gráfico japonês.
Índice
- Alguns dos melhores designers gráficos são japoneses
- No Japão, eles não têm muitas fontes
- A estética japonesa é baseada em sua filosofia de vida
- O design gráfico japonês se sustenta na imperfeição
- Os designs sugerem, nunca revelam
- Estética japonesa Wabi-Sabi
- Padrões florais e geométricos
- Ilustração japonesa
- Cultura Kawaii
- Letras desenhadas e fontes personalizadas
1. Alguns dos melhores designers gráficos são japoneses
Há designers gráficos japoneses que influenciaram muito o Ocidente. Entre eles, contamos com estes grandes:
Shigeo Fukuda
Surpreendeu pelo seu estilo único, em que se destacam as ilusões de ótica. Em suas obras, também se pode ver a influência do origami. As ilustrações pretas em fundos de cores vivas foram sua marca registrada, como demonstrado pelo pôster que ele fez em 1945 e com o qual ganhou a Bienal de Varsóvia em 1972.
Shigeo Fukuda.
Fukuda também se destacou por suas esculturas, entre as quais se destaca “Lunch with Helmet On”, escultura em talheres de metal cuja sombra desenhava a silhueta de uma motocicleta.
Shigeo Fukuda.
Yugo Nakamura
Ele é considerado o grande gênio do flash, além de um dos dez melhores designers do Planeta. Suas animações são interativas e ele é um dos primeiros designers a usar o flash 4. Em seu trabalho é possível notar uma clara influência de seus estudos em Arquitetura.
Ikko Tanaka
O talentoso designer e publicitário faleceu há alguns anos, mas seu trabalho continua inovador e é uma referência para as novas gerações. Em seus designs se encontra não só a marca oriental, mas também a ocidental.
O trabalho que mais se destaca de Tanaka está em seus cartazes, nos quais se observam as grafias japonesas, recurso implementado por ele para transformar os personagens em elementos do conjunto.
2. No Japão, eles não têm muitas fontes
Ao contrário do Ocidente, onde as fontes são — quase — infinitas, no Japão o número é limitado. Apesar disso, os japoneses têm uma grande vantagem: a simbologia de seus personagens, o que possibilita que, por exemplo, os logotipos de marcas tenham muito significado (mesmo quando são compostos por um par de caracteres).
3. A estética japonesa é baseada em sua filosofia de vida
Para entender o design gráfico japonês, é necessário entender a filosofia de vida desse lado do mundo, que não é regido pelos parâmetros ocidentais e dificilmente encontra semelhanças.
Design de Taku Bannai.
4. O design gráfico japonês se sustenta na imperfeição
A imperfeição domina o mundo e isso é levado em conta pelos designers gráficos japoneses na hora de realizar seus trabalhos. Não é estranho encontrar entre suas peças imagens que apostam na assimetria. A imperfeição também se manifesta por meio de uma predileção por números ímpares.
5. Os designs sugerem, nunca revelam
Ao contrário do design ocidental, onde a realidade pode explodir diante de nossos olhos e a mensagem das imagens é mais do que evidente, os designers japoneses seguem o que em sua cultura é conhecido como "Yugen", onde sugerir é melhor do que revelar.
Design de Taku Bannai.
6. Estética Wabi-Sabi japonesa
Esta tendência tem a ver com a estética japonesa Wabi-Sabi, que mistura o moderno com o caloroso e assimétrico. Para sermos mais precisos, o Wabi-Sabi descreve um tipo de visão estética baseada na "beleza da imperfeição".
Em outras palavras, essa tendência "encontra alegria no imperfeito" e nos antigos ideais japoneses de beleza e bom gosto.
É uma tendência que enaltece o simples e o arrumado, mas também se caracteriza por designs inteligentes e intuitivos.
“Media Literacy Is an Imagination", Shiro Shita Saori.
7. Padrões florais e geométricos
As flores são um símbolo que sempre esteve muito presente na cultura japonesa. Portanto, não é nenhuma surpresa que os padrões florais continuem a ser uma tendência no design gráfico japonês.
Na verdade, a flor nacional do Japão é a sakura (a cerejeira japonesa), que significa "beleza do coração". Outras flores populares na cultura japonesa? Sumire (violeta), momo (pêssego), sakurasou, kosumosu, etc. Todas têm um significado e a grande maioria é rosada e violeta.
O uso de padrões florais no design gráfico japonês não é apenas decorativo. Os designers os incorporam em seus designs para representar símbolos e evocar emoções. Essa tendência é frequentemente vista em embalagens, pôsteres, ilustrações e capas de livros.
Por sua vez, os padrões geométricos são usados para refletir harmonia e equilíbrio ou para representar formas que não são encontradas na vida real.
8. Ilustração japonesa
Alguns designers costumam incorporar elementos da ilustração japonesa em suas peças gráficas, para chamar a atenção de um público mais jovem. Referimo-nos ao mangá. exemplo, personagens com enormes olhos redondos, gestos gracosos, bocas e narizes pequenos, etc.
E se os personagens são os protagonistas do desenho, muito melhor.
Illustration and Business Card T-Go Animation Studio, bubupanda.
Illustration and Business Card T-Go Animation Studio, bubupanda.
9. Cultura kawaii
Outra tendência do design gráfico japonês tem a ver com o kawaii, ou seja, com a cultura do doce e do terno, muito comum em várias marcas de produtos e na televisão japonesa.
Os elementos da cultura kawaii incorporados ao design gráfico favorecem a confiança e a reaproximação por parte dos usuários ou clientes. Inspiram bondade, diversão e alegria e removem quaisquer sinais negativos ou de inimizade.
Por exemplo, o desenho de um cachorro realista não terá o mesmo efeito que o desenho de um
cachorro kawaii. E isso se deve principalmente aos elementos kawaii: olhos redondos e brilhantes, bochechas rosadas e uma boca ou sorriso pequeno.
Gimo the cat, Alex Kiesling.
Phôfinho Branding, Sofia Ayuso.
Phôfinho Branding, Sofia Ayuso.
10. Letras desenhadas e fontes personalizadas
Como já dissemos antes, o design gráfico japonês valoriza símbolos antigos e a arte tradicional, como a caligrafia (ou “shodou”, em japonês). Na cultura japonesa, o desenho de letras é uma arte na qual poucos alcançam um nível de maestria.
Por isso, é comum ver desenhos japoneses com letras desenhadas e pinceladas, que combinam o clássico com o moderno, alcançando um visual lendário e único.
Também existe uma tendência de personalizar a tipografia. Isto ocorre porque o japonês não tem muitas fontes.
Label for HANA ICHE sake, Szs.
Design de Ryu Mieno.
Design de Ryu Mieno.
Princípios do design japonês
Para entender a essência do design gráfico japonês, é necessário conhecer as regras da cultura japonesa nas quais se baseia esse estilo de design. Cultier explica assim:
Fukinsei (desequilíbrio)
Baseado na negação da perfeição, assimetria, números ímpares e desigualdade. Perfeição e simetria não ocorrem na Natureza.
Kanso (simples)
Podemos classificá-lo como um design minimalista. Eliminação de decoração, design descomplicado.
Kokou (austera)
Evoca severidade, proibição, maturidade e autoridade.
Shizen (natural)
Criatividade em bruto, natural e espontânea, despretensiosa.
Yugen (profunda)
Sugerir e não revelar o significado oculto. Invisível para o olho casual, que evita o óbvio.
Datsuzoku (mundana)
Livre das ataduras das leis e restrições. A verdadeira criatividade.
Sijaku (calma)
O silêncio e a tranquilidade. A ausência de perturbação, o ruído da mente, do corpo e do meio ambiente.
Ilustração para a revista Kyodo Weekly, Taku Bannai.
Características do design gráfico japonês
Concluindo, podemos dizer que existem algumas peculiaridades que definem o design gráfico japonês. Como reconhecê-lo se o temos diante de nós? Normalmente, pode ser distinguido pelas seguintes qualidades:
- Possui uma profunda capacidade de síntese. Poderia se dizer que um dos princípios do design gráfico no Japão é a simplicidade. O que no Ocidente é conhecido como “menos é mais”. Esse recurso de "eliminar o desnecessário" está presente na maioria de seus projetos.
- O design gráfico japonês é capaz de simplificar um elemento (objeto ou ser vivo), sem perder suas informações originais. Um exemplo claro desta qualidade é o trabalho do designer japonês Ikko Tanaka.
- Não é perfeito. O design gráfico japonês não busca a perfeição, porque ela simplesmente não existe na vida real. Em vez disso, trabalha com assimetria e tira proveito da desigualdade das formas.
- Combine o moderno com os símbolos tradicionais da cultura japonesa. Uma das características que torna o design gráfico reconhecível japonês é o uso de atributos tradicionais. O presente e o passado não estão em conflito — andam de mãos dadas.
Possui um espectro de cores vivas, onde predominam vermelhos quentes, dourados e pretos, mas também cores frias e pasteis. No design gráfico japonês há espaço para a experimentação com a cor. O caminho: criar peças gráficas com caráter e energia, que nos lembrem da cultura japonesa bem presente, por exemplo, nas ruas de Harajuku e Shibuya.
Podemos aprender muito com a cultura japonesa para implementá-la em nossos designs. Os grandes talentos japoneses mesclaram o tradicional com a modernidade, obtendo designs únicos, que perduram ao longo do tempo. Seu trabalho é um exemplo de quanto pode ser dito com pouco, sem desordenar a tela (ou prancheta).